Esta matéria trata-se do relevante papel dos adolescentes na transmissão da meningite meningocócica, da importância da escola na atualização da carteira de vacina e traz as recomendações de vacinação da Sociedade Brasileira de Imunizações e de Pediatria e do Programa Nacional de Imunização.
Papel do adolescente na transmissão da meningite meningocócica
A meningite é uma infecção das membranas protetoras que circundam o cérebro e a medula espinhal (meninges). Essa doença normalmente é causada por vírus ou bactérias, e raramente por fungos ou parasitas. Se não for tratada rapidamente, essa doença pode levar a danos permanentes ao cérebro ou ao sistema nervoso, infecção generalizada (septicemia) e à morte em até 24 horas após o início dos sintomas.1,2,3
Uma das principais causas de meningite é a infecção pela bactéria Neisseria meningitidis, que possui mais de 13 sorogrupos. A maioria dos casos de meningite meningocócica são causadas pelos sorogrupos A, B, C, W e Y, sendo que no Brasil os principais são os B, C, W e Y.4
A doença meningocócica causada pela Neisseria meningitidis é transmitida pelas secreções respiratórias contaminadas, acometendo principalmente crianças e adolescentes. Esta doença se caracteriza por uma ou mais síndromes clínicas, sendo a meningite a mais frequente e a meningococcemia (infecção generalizada) a forma mais grave.4
A vacinação de adolescentes tem grande impacto no controle da meningite, visto que 20% dos indivíduos desse grupo podem ser portadores da bactéria Neisseria meningitidis.5,6 Este microrganismo pode permanecer na região nasofaríngea sem desencadear sintomas mas mantendo a capacidade de transmissão, o que contribui para que os adolescentes sejam considerados transmissores potenciais.4 Adicionalmente, a transmissão por secreções respiratórias contaminadas transforma comportamentos comuns ao período da adolescência (como o de frequentar locais de aglomeração e o compartilhamento de copos) em fatores de risco.5,6
Papel da vacinação na proteção contra doenças infectocontagiosas
A vacinação é uma forma simples, segura e eficaz de proteger as pessoas contra doenças infecciosas.7,8
Quando um indivíduo é vacinado contra determinada doença, o risco de infecção também é reduzido e, portanto, é muito menos provável que ele transmita a doença a outras pessoas. À medida que mais pessoas em uma comunidade são vacinadas, um número menor de indivíduos permanece vulnerável e, consequentemente, há uma diminuição na transmissão e circulação do patógeno naquele meio. Com isso, cria-se a chamada “imunidade de rebanho” (Figura 1), que também contribui para a proteção daquelas pessoas que não podem ser vacinadas devido a condições de saúde (exemplo: imunodeficiência ou corticoterapia prolongada).7
Figura 1. Representação esquemática da propagação da doença quando um indivíduo infectado é introduzido em uma população completamente suscetível (painel superior) versus uma situação em que um indivíduo infectado é introduzido em uma população que atingiu o limiar de imunidade de rebanho (painel inferior). Na população suscetível, o surto da infecção surge rapidamente, ao passo que, no cenário de imunidade de rebanho, o vírus não se espalha e não se mantém na população. Adaptado de Randolph HE, Barreiro LB. Immunity. 2020;52(5):737-741.9
No Brasil, o Programa Nacional de Imunização (PNI) oferece gratuitamente para a população 17 vacinas consideradas como de interesse prioritário para garantir a saúde pública, entre elas a vacina Meningocócica Conjugada Quadrivalente — ACWY para adolescentes de 11 e 12 anos.8,10
Papel da escola na atualização da caderneta de vacinação
A escola tem um papel fundamental na verificação e manutenção da carteira de vacinação de crianças e adolescentes, podendo estimular um debate na comunidade sobre a importância da vacinação e realizar ações como:8
- Solicitar uma cópia da carteira de vacinação da criança ou do adolescente no ato da matrícula.
- Após a matrícula, organizar reuniões com os pais para avaliar as cadernetas de vacinação junto a profissionais de saúde.
Para que estas ações sejam ainda mais eficientes, é importante estimular a participação dos pais ou responsáveis no acompanhamento da proteção vacinal da criança ou adolescente.8
Alguns estados brasileiros, como o de São Paulo, exigem aos alunos menores de 18 anos a apresentação obrigatória da carteira de vacinação no momento da matrícula e sua atualização durante todo o período escolar.11
A escola também pode participar da difusão de informações sobre a vacinação. Um estudo brasileiro observou que a baixa cobertura vacinal em adolescentes está relacionada à falta de conhecimento sobre o calendário de vacinação e também que atividades de educação em saúde são capazes de aumentar a cobertura vacinal neste grupo de estudantes.12
Recomendação de vacinas contra meningite meningocócica
A prevenção por meio da vacinação é a melhor maneira de evitar a propagação dos principais patógenos causadores da meningite.1
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a de Pediatria (SBP) recomendam, sempre que possível, o uso da vacina meningocócica conjugada ACWY. Essa vacina é composta por antígenos das cápsulas dos meningococos dos sorogrupos A, C, W e Y e, por isso, não é capaz de causar a doença, sendo indicada para:13
- Crianças a partir de 2 meses e adolescentes.
- Adultos e idosos com condições que aumentem o risco para a doença meningocócica ou de acordo com a situação epidemiológica.
- Viajantes com destino às regiões onde há risco aumentado da doença.
Além disso, também é importante a aplicação da vacina meningocócica B, recomendada para crianças a partir de 3 meses e adolescentes. É possível aplicar esta vacina no mesmo momento em que a vacina meningocócica ACWY.14
Os esquemas de vacinação contra a meningite meningocócica sugeridos pela SBIM e pela SBP estão descritos na Figura 2.13,15-17
Figura 2. Recomendação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) e de Pediatria (SBP) contra meningite meningocócica. Para crianças, segundo a SBIM, a vacinação de rotina contra meningite meningocócica deve iniciar aos 3 meses de idade com duas doses no primeiro ano de vida (dependendo das recomendações das bulas) e reforço entre 12 e 15 meses, entre 5 e 6 anos e aos 11 anos de idade. Segundo a SBP, a diferença em relação à SBIm, está no segundo reforço que pode ser dado entre 4 e 6 anos e o terceiro, entre 11 a 12 anos. *Para adolescentes que nunca receberam a vacina meningocócica conjugada – ACWY, são recomendadas duas doses com intervalo de cinco anos, por exemplo, a primeira dose aos 11 anos e a segunda, aos 16 anos. Para adultos, é recomendada dose única a depender do risco epidemiológico ou condição de saúde. (Adaptado da Sociedade Brasileira de Imunizações, 2020,13,15,16 e Sociedade Brasileira de Pediatria, 2020.17)
Nem a infecção natural nem a imunização contra a meningite meningocócica geram proteção para toda a vida, já que a quantidade de anticorpos diminui ao longo do tempo. Por isso, é importante estar atento às doses de reforço conforme as recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).14
A Vacina Meningocócica Conjugada Quadrivalente — ACWY pode ser encontrada nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) para adolescentes entre 11 e 12 anos e nos serviços privados de vacinação.13
Na impossibilidade de usar a vacina ACWY, deve-se utilizar a vacina meningocócica C conjugada.13
- Adolescentes são transmissores potenciais da meningite bacteriana e, por isso, a vacinação desse grupo é essencial.4-6
- A “imunidade de rebanho” é criada apenas quando uma alta porcentagem da população é vacinada. Assim, é importante manter a carteirinha de vacinação atualizada.7
- A escola tem um relevante papel na educação em saúde e no acompanhamento da carteira de vacinação.8
- A Vacina Meningocócica Conjugada Quadrivalente — ACWY é recomendada para uso rotineiro em crianças e adolescentes pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) e de Pediatria (SBP) e, além de estar disponível nos serviços privados de vacinação para todas as faixas etárias, está disponível nas UBS para adolescentes entre 11 e 12 anos.13,17